29 de out. de 2012

EXPEDIÇÃO CICLOCULTURA - RUMO A MINAS


De volta na estrada, após dois meses em FOZ DO IGUAÇU, sai em uma brecha de tempo, entre uma chuva e outra e rumei para MEDIANEIRA, foram 58 km, boa parte dele foi acompanhado por um ciclista profissional dando um pedal de 100 km só pra relaxar os músculos hahaha, e eu lá puxando minha carga ... Esta que aumentou consideravelmente nestes dois meses, parte pelo sobre peso e parte pelos equipamentos comprados.

A viagem foi bem puxada, em Medianeira encontrei um amigo, de um amigo, que me hospedou em sua casa, ele é aluno do UTFPR e estava saindo de viagem no dia seguinte, pois havia  acabado o semestre, e como todo final de semestre tem comemoração, este não foi diferente, nos reunimos em uma casa e confraternizamos historias, risadas e novos amigos.

Uma estória interessante desta confraternização foi a de uma menina.  Esta, que foi criada a vida toda em uma comunidade alemã em Santa Catarina, somente veio a descobrir o racismo com 19 anos, quando foi estudar fora de sua cidade, e até então nunca havia convivido com pessoas de outras etnias.

No dia seguinte acordei com uma chuva terrível, esperei, e lá pelas 10 da manhã abriu o tempo e peguei a estrada.

O segundo dia fui até a cidade de  SANTA HELENA, esta, que faz parte do lago de ITAIPU. Muito linda a cidade, possui uma enorme ciclovia e um parque com praia artificial com camping gratuito durante a semana, excelente infraestrutura, recomendo. O pedal foi bem tranquilo, longos trechos de retas e descidas.

No terceiro dia, segui viagem pela ciclovia que cruzava mais dois municípios, ora com boa ciclovia, ora com acostamento que virava ciclovia para frente, neste dia, peguei a ciclovia mais louca de toda a minha vida. Esta era uma ciclovia de madeira que passava embaixo da ponte que cruzava o lago de Itaipu, muito medo mais até que ela aguentou legal, este pedal foi de 86 km sendo uns 30 km por ciclovias, o resto foi muita subida e muito vento contra.

Fui passeando por cidades coloniais bem bonitas, coisa de cidade de filme mesmo, as pessoas na rua, diversas plantações em todos os quintais, bem legal mesmo!  Minha parada para descanso foi em Mercedes, onde me ofereceram um camping público, mas ficava a 11 km da cidade, só que de lá, não havia saída para o meu caminho, no outro dia então resolvi continuar por mais 22 km até chegar a um posto de combustível, no alto de um planalto. O caminho foi difícil, pra chegar lá, peguei uma chuva grande, onde consegui me proteger em um ponto de ônibus, mas na segunda vez peguei alguns pingos até chegar ao posto e até montar o acampamento, este trecho foi bem puxado e bem trabalhado foram várias paradas e mesmo assim cheguei bem cansado.

No dia seguinte rumei morro abaixo até Guaira, 47 km feito em pouco mais de 2 horas, estrada boa recém-recapeada, longas descidas e lá cheguei à divisa do PARANÁ com MATO GROSSO DO SUL e PARAGUAI. Fui à procura da Defesa Civil, que mais uma vez me acolheu muito bem, fiz novos amigos e conheci um pouco mais sobre a cultura local e seu passado.  Em Guaira ficavam as Sete Quedas do Rio Paraná, a qual hoje esta embaixo da água do Lago de Itaipu.  Próximo a Defesa Civil tinha um parque muito legal com campos esportivos, com enorme infraestrutura para eventos, a qual para variar, estava fechada. E por informações soube que geralmente uma vez ao ano é usada, uma pena, pois o local é fantástico.


No outro dia sai cedinho e atravessei a ponte AYRTON SENNA que liga PR a MS, esta ponte tem 4 km e é a típica ponte brasileira, que começou de um lado, depois começou do outro e um terceiro fez um S para ligar as duas partes hahahhaa, visual lindo e emocionante passar em cima do PARANAZÃO o rio lindo.

Saindo dali, pedalei mais 80 km até a cidade de Itaguaira, um pedal bem longo com a primeira chuva forte mesmo, passei grande perigo durante a chuva, muitos raios e ventos rasgando, me jogavam para o acostamento e os caminhoneiros "bem educados", ainda passavam colados e acabei indo umas três vezes para fora da pista. Perdi o velocímetro e o espelho da bike numa destas, já sem saber mais o que fazer... Continuei empurrando a bike até uma fabrica de farinha onde me abriguei até a chuva passar. Segui viagem por mais uma hora, e já no cair da noite cheguei ao posto de gasolina da cidade onde dormi como uma pedra.

E hoje pedalei os piores 40 km de toda a saga, muitas subidas das que não se vê o final até começar a descer, neste trecho demorei mais de 4 horas, mas cheguei a NAVIRAI. Pedi abrigo aos Bombeiros que mais uma vez me acolheram com todo o respeito, e por hoje fico por aqui e amanhã sigo viagem para 95 km de estrada sem cidade no caminho e que venha IVINHEMA.


Nestes últimos dias, tenho visto tantos contrastes que fico até meio atordoado. Ontem passei por um assentamento a beira da estrada, onde parei e fiquei de papo com um índio. Ele me falava que estava ali há dois anos, e que não sabia para onde iam. Perguntei: "mas vocês querem qual terra: esta ou aquela?",  apontei para os lados da rodovia. Ele me falou: "não sei, tanto faz, só queremos um pedaço de terra, já nos levaram pra tantos lugares que nem sabemos mais pra onde queremos ir".
Perguntei por que não tinham melhorado as casas neste tempo? E por que não plantavam mais árvores? Foi quando ele me mostrou todas as mudas que havia plantado, e me disse: "não me interessa se vão comer estas frutas, mas daqui 10 anos posso passar aqui e ter comida e além do mais tem que plantar para os passarinhos".


Acabei saindo de lá com a cabeça fervendo, desde que entrei no MS só vi plantação de cana, soja, milho e boi que não acaba mais. Tem boi que tem mais terra para pastar, que aquele Índio tem para plantar sua comida. São as contradições do nosso mundo capitalista, mas fiquei pensando, a história do Índio é a mesma, que a dos homossexuais, das prostitutas, dos drogados. É um problema que existe, mas que fingimos não existir. Cansei de ver gente falar mal deles,  dizem que índio é isso ou que índio é aquilo, mas a atitude deste homem de plantar é mais que qualquer outra atitude. Atitude dele muda o futuro, e a nossa de fingir não ver só embaralha nosso futuro.

Minutos depois de ver o índio, cruzo com um tucano lindo, um sinal de que o índio estava certo, tem que plantar para os passarinhos, me desabei em lágrimas de emoção de ver um tucano num MS enorme cheio de gado e plantações, onde um dia já foi uma floresta cheia de vida hoje é um deserto verde.

Seguindo Viagem. ... E até breve com mais estórias e pedaladas.




Um comentário:

  1. é meu irmão...trip sem roubada não é trip, hein? No MS então teremos uma rota para NÃO ser seguida, né? kkkk
    Agora falando sério...lembro que qdo fui a Campo Grande uma coisa que me chamou a atenção era que nas placas para outras cidades a distancia numa era inferior aos 300 km...
    abçs

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